sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

...





Quem me mandou?
Apareceu nos comentários mas,
Não há nome e nem itinerário!
Quem me deixou?

Quem deixou,
- me, sem delongas
sem pormenores

Esteve aqui
Nesse lugar coisa
Nesse tempo vulto

Quem me mandou?
Esse vídeo veio em hora
Acertou me, no agora,
e sem tempo, me deixou.

Quem?


terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Ericson Pires me reaparece...

Já postei algumas coisas sobre Ericson Pires aqui.
Compartilhei poeticamente as estranhuras que minha relação com esse cara se deu.

O que aconteceu é que fui, numa certa noite carioca, nos idos de 2012, acometido por uma profunda melancolia... mas melancolia de morte mesmo!, uma tristeza doída, que acabou por me levar, solitário, a uma Lapa agitada.
E a Lapa estava estranha. As pessoas estavam estranhas. Os Arcos estranhos. A música lindamente estranha. Eu não sabia, mas algo acontecia...

Foi então que, sob um dos Arcos, uma espécie de fanfarra de palhaços anunciou: "Ericson morreu!".
Nunca havia lido, visto, conhecido ou mesmo ouvido falar de Ericson Pires! E naquela noite eu sofria, sem mesmo entender o porquê, a morte de um grande amigo.

Um dia, contei esse acontecido a uma amiga carioca que disse ter se sentido um pouco estranha também, na mesma Lapa e naquele mesmo 17 de março de 2012. Disse a ela, inclusive, que ao lembrar desse dia sentia-o etéreo, nebuloso... algo meio onírico. Teria sido um sonho louco, ou mesmo o resultado de pensamentos embaralhados pela libação na Lapa?

Esse fim de semana esta amiga resolveu aparecer. Por e-mail mandou um link do youtube com a seguinte recomendação: "Não foi um sonho. Você estava lá. No anúncio, no exato momento, você estava lá... Preste a atenção no vídeo, no cara que aparece aos 5min14s, com camisa do Flamengo. Era você, amigo! Estava lá..."

É a cada dia mais estranha essa história minha com esse inquieto!

E viva Ericson!

Abaixo, o vídeo referido!






...e o poema lido:

cada janela abre fechada. muitos pedaços não pintam um quebra-cabeças. algumas histórias nunca serão ouvidas. o possível. as linhas dos morros são curvas. os postes multiplicam afetos e eletricidade. o sol vem nascendo sempre. o real. não há nada que seja exclusivo. o doce. o salgado. pouco importa. o que importa? os subúrbios exalam. os corpos exalam. os lixos exalam. a cidade transpira. e tudo segue. sem você ou sem mim. siga. os carros. a luz. os quartos. as janelas. siga. os elevadores. a prisão. o ventilador. a miséria. segue. segue. em você ou em mim. segue. e que se abram todas as portas. o apartamento está escuro. as janelas estão fechadas. você sabe. lá fora é também aqui dentro. tudo segue.



sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Rio




Todo lugar tem sua energia. Boa, ou não, essa energia tem o poder de mudar as pessoas.
O Rio é para mim é uma espécie de Meca. Existe uma força inexplicável nos arredores da Lagoa, nos butecos da Lapa e do Conceição. Na José Linhares eu me perco, na Pedra do Sal, às vezes, me acho...
Há no Rio uma espécie de névoa boêmia que me remete a Ericson Pires, inquieto, agressivo e resignado, perdido (será?) na "Cidade Ocupada"... E como é bom se perder no Rio!
Na Guanabara me sinto outra pessoa. Há um ar de melancolia, de reminiscências de coisas que nem mesmo vivi. Como se houvesse uma espécie de epistemologia poética heteróloga, que me levasse a ter sensações Jobinianas, Vinicianas, Cavalcantianas, saudosas, como se eu fosse o próprio Jobim, o Poetinha ou o Di.
Rio... 

Vai Vinícius:

Pois ser carioca, mais que ter nascido no Rio, é ter aderido à cidade e só se sentir completamente em casa, em meio à sua adorável desorganização. Ser carioca é não gostar de levantar cedo, mesmo tendo obrigatoriamente de fazê-lo; é amar a noite acima de todas as coisas, porque a noite induz ao bate-papo ágil e descontínuo; é trabalhar com um ar de ócio, com um olho no ofício e outro no telefone, de onde sempre pode surgir um programa; é ter como único programa o não tê-lo; é estar mais feliz de caixa baixa do que alta; é dar mais importância ao amor que ao dinheiro. Ser carioca é ser Di Cavalcanti.



sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Do lugar onde estou...

"Do lugar onde estou, já fui embora"...

Essa frase soa mais forte agora que se foi (foi?... No creo que se ha ido...).
Manoel de Barros! Eu ainda acredito que renovaremos o homem usando borboletas!








sábado, 18 de outubro de 2014

Reminiscências


Aprendi a acreditar num mundo justo! Esse mundo, eu sei, está em disputa...
Desde que me entendo por gente aprendi a aprender Marx!
Eu continuo acreditando na UTOPIA, em Freire, em Che...





Reminiscências...


Um dia, um cara saiu da minha casa pra estudar fora e voltou com um certo Che na cabeça. E com uma boina na cabeça. Uma estrela vermelha...
Minha admiração nesse cara me fez acreditar nessa estrela, e em tudo de lindo que ele trazia dentro de sua boina.

Passei a amar as pessoas que sonham. Passei, sobretudo, a me espelhar nas pessoas que fazem até, se necessário, morrer pelos sonhos!

Hoje o mundo tá virado e a boina se desbotou. A cabeça do dono da boina não sonha mais. E eu sonho um pouco só, um tanto sorumbático!

Che! Camilo! Pombo! Oh!.. companheiros! 
Acendam de novo a vela que um dia foi fogueira!







quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Por que DILMA?


Alguns amigos andaram me perguntando em quem eu votarei para presidente. Resolvi então colocar no papel algumas considerações.


Muito antes de questionarmos a escolha, penso que devemos questionar o que nos levou à escolha. No meu caso, confesso, foi a desesperança racionalizada em praticidade. Vamos ser sinceros! Marina, Dilma e Aécio representam o fim desse período iniciado nas Diretas e que não deu em nada!

Vamos aos nomes e às lágrimas...

Dilma tem o apoio e é cria política de Lula, este que só foi eleito ao aceitar a agenda do grande capital – não é à toa que seu vice era um megaempresário. Lula foi o fiasco da esquerda, “o fim do sonho”. Esse cara liderou um movimento proletário que mostrou ao povo que, não havendo culhões para a revolução socialista, vende-se a alma ao capeta em troca de políticas sociais que são verdadeiras migalhas ao bom sonhador. Foi o criador do conceito de que tudo pode ser relativizado. Foi o filho da mãe que deixou claro que a covardia na política também pode ser chamada de articulação inteligente. Foi o cara que lutou nos 80’s, cansou nos 90’s e abriu as pernas nos 2000’s. Foi o destruidor de algo muito maior que um plano de vida – destruiu um plano ideológico de uma nova geração! Mostrou aos jovens perdidos com suas caras pintadas, aos torturados, às mães de desaparecidos e aos bons artistas anistiados que não importa o que tenha acontecido, abraçar o (demônio) Sarney é natural! Mostrou aos mesmo pintados que o impeachment foi um simples fato histórico, e que Collor é um bom moço quando posso chama-lo de (novo) companheiro. Lula fez as pessoas terem vergonha do choro chorado. Fez o Brasil perder em identidade e caráter. Foi o grande responsável por fazer a direita ter orgulho de ser a própria direita e a esquerda ter vergonha de sê-la.

Já a Dilma não tem personalidade política alguma. É uma gestora clássica de um sistema gestor classicamente ultrapassado onde não há parceiros e sim subordinados. É uma torturada sem sangue nas veias! Perdeu-o? Será que o teve?

Aécio é neto do (quase) herdeiro da transação (NUNCA houve transição alguma!!!) democrática arquitetada em apartamentos da Zona Sul do Rio e gabinetes de Brasília. É a direita que aprendeu que, depois de perder três vezes para a esquerda endireitada, só será capaz de ganhar novamente o bastão se tentar falar, antagonicamente, como a esquerda um dia falou. Daí a agenda socialóide desse playboy quarentão. Neves é o expoente da direita ruminada, engolida e regurgitada após uma sequência de mandatos que fez Serra e FHC se desentenderem, enquanto a ultradireita DEMoníaca aguarda o momento de voltar a descer o cacete em pobre e/ou sem-terra (isso, aliás, como diria o nosso amigo de 09 quirodáctilos, “o PT se orgulha de nunca ter feito”). O mineiro que acabou com a saúde em Minas e com a previdência dos seus servidores, que é abertamente prosélita da fragmentação do SUS, que abriu Minas Gerais para Andrades e Gutierres irem à forra, que tirou o centro do poder de perto do povo (a seu modo, levou a capital para o nada, como um JK revisitado), que engrossou a fileira dos que passaram pelo “Palácio de Festas da Liberdade” e nunca resolveram a pobreza do Norte e do Jequitinhonha...  esse mineiro é a figura do “choque de gestão”, nome dado ao modelo gestor que pretende criar um Brasil-Empresa repartido em Agencias Reguladoras que mais parecem setores de uma grande Holding, a Brasil-SA.

Marina, meu Deus! Se existe um “matador de sonhos” e um “vendedor de ilusões da socialdemocracia”, Marina é o resultado da cópula de ambos! Iniciou sua “jornada” nesta eleição mostrando que a criação de um partido não mais é a representação da organização de um movimento social definido que, para “jogar o jogo” democrático, deve se configurar em uma legenda. Tentou, assim, em sentido inverso, criar um partido e a partir de então justificar sua necessidade social. Não conseguiu e “caiu” na legenda que mais lhe seduziu e deu possibilidades de (vice) liderar um movimento reacionário, digo, de reação. Eis que, por um acidente (desculpem o trocadilho), aconteceu o desastre que a trouxe à segunda colocação na corrida maluca! Marina é o resultado de um desastre! Marina vem numa onda meio Clintoniana! A adoradora de ONGs, a encantadora de movimentos sociais, a elucubradora da velha política de roupa nova! É bancada pelo grande capital que ainda não senta na mesa das grandes decisões. É a figura da digressão histórica onde uma discípula de Chico Mendes se fez aliada de banqueiros e do falacioso dono da Natura! Marina é a voz da terceira via, direita travestida de neo-esquerda. É uma evangélica marxista, uma neoliberal socialista, uma militante reacionária, uma modernidade anacrônica. Marina diz ser a “nova política” que pretende governar com o apoio de “Lula e Serra”!!! É a nova política que só terá governabilidade se abrir mão do seu poder de governo... E poder de governo dado a outrem é exatamente o que Dilma e Aécio, tacitamente, propõem – ao bom entendedor.
Meus amigos! Não há o que fazer quanto a esses três! São péssimos! Estou triste e me sentindo um imbecil. Na marcha às urnas da “grande festa da democracia”, iremos todos de uniforme jogar o jogo já definido pelos financiadores do próprio jogo! O capital sabe que não corre o risco de perder seu terreno conquistado desde que João Goulart foi deposto!

Por isso, confesso uma coisa... Escolhi a Dilma por três motivos. 1) Porque ela é a menos pior dos três; 2) Porque há Frei Beto, Leonardo Boff e Marilena Chauí, ainda, nas fileiras do PT; 3) Porque o PT é o único partido que, internamente, tem discutido com seriedade a possibilidade de uma consulta popular (referendo? Plebiscito?) para a aprovação da reforma política.

A única forma de darmos um passo ao futuro humanizado (sempre lembrando que o socialismo é o sonho do humanismo!) que acredito é mudar as regras do jogo. Enquanto não tivermos financiamento estritamente público para as campanhas e o voto distrital não acredito que algo vá pra frente.

Ps: Os cerca de 25 mil candidatos dessas eleições devem gastar, no geral, aproximadamente 70 bilhões de reais. Dilma, Aécio e Marina, juntos receberam mais de 200 milhões em doações. As construtoras OAS e Andrade Gutierrez, e a JBS (Friboi) foram as que mais doaram. Todas doaram aos três candidatos!

Ps2: Tenho outras mil considerações. Acho mesmo que valeria a pena discutirmos sobre as macropolíticas... Mas esse texto vem carregado de desesperança e com uma certa dose de descarrego.





quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Meu coração...

...é sempre bom cantar quando se está sorumbaticamente atônito!



(...)
E todas as pessoas que falam pra me consolar
Parecem um bocado de bocas se abrindo e fechando
Sem ninguém pra dublar
Eu já disse adeus antes mesmo de alguém me chamar
Não sirvo pra quem dá conselho
Quebrei o espelho, torci o joelho, não vou mais jogar

[Refrão]
Meu coração bate sem saber
Que meu peito é uma porta que ninguém vai atender
Meu coração bate sem saber
Que meu peito é uma porta que ninguém vai atender...







domingo, 13 de julho de 2014

Ivan Junqueira

Somos muito breves... O tempo que nos foi dado (será, assim, o tempo, algo a ser dado ou recebido?, como fruto de uma benevolência divina?) é muito pouco!
Recentemente fui "apresentado" a Nélida Piñón e pensei comigo e meus demônios, "que chato conhecê-la tão tarde, Sra. Piñon!". Como se o tempo, curto, fugidio, fosse na verdade um mero lampejo e, pós-moderdos (será?) que somos, há muito acúmulo prévio (epistemologia?) a ser parcamente desfrutado por nós, pobres e malditos mortais.
Acho que é isso! O tempo nos é pouco pois somos mortais. Se a vida fosse medida em séculos e não em anos, ou seja, se vivêssemos naturalmente até os 6 mil anos de idade, ainda assim essa vida seria curta, dado a insignificância desse período milenar frente à eternidade. Sempre será pouco... somos mortais!
Mas, claro!... o fato que me fez elucubrar... voltando ao fato que me fez voltar à tristeza (metafísica tristeza) dos confusos humanos... O fato foi que nem bem eu fora apresentado à Nélida, me cai à mão Ivan Junqueira.
Meu Deus! Somos muito breves! Como demorei tanto tempo, Sr. Junqueira, para conhecer-lhe?

Compartilho com os amigos, esse mestre das rimas toantes, também chamadas, pelos incautos, rimas imperfeitas...

Seguem dois poemas escritos por Ivan no fim da vida - como se houvesse "fim da vida" para um imortal como ele.

(...)
O adeus não é um até breve
ou algo fátuo que se escreve
numa folha deitada ao vento,
avessa à mágoa e ao sofrimento,
lágrimas de olhos que não choram,
mãos que acenam e vão-se embora.

Não é fácil dizer adeus
nem ao demônio nem a Deus,
tampouco ao cão que te servia,
na selva escura, como guia.

Não é fácil dizê-lo à vida
o mais obstinado suicida,
e até mesmo o mártir, ao ir-se,
da carne reluta em despir-se.

Dizer adeus é o mais difícil,
o mais antigo e árduo suplício.
Terá Cristo o dito na cruz
ao despedir-se de Jesus?



DESPEDIDA


Estamos indo embora. Sobre o piso de ardósia,
por entre caules e corolas que exalam um perfume exótico,
os gatos deslizam. São espíritos leves e sóbrios,
com suas patas de veludo, silenciosas,
que arranham a lombada dos livros e o verniz dos móveis.
Os tapetes abafam seus passos ociosos,
como se faz quando se acolhem os órfãos.
Doze anos se passaram, e estamos indo embora.
A brisa do mar, com seus úmidos braços, nos envolve
e empurra para um outro promontório,
uma outra dimensão de nossa breve história,
de que somos, se tanto, transitórios hóspedes,
peças de um tabuleiro onde o tempo as desloca,
alheio à inútil engrenagem dos relógios,
cujas horas se dissolvem numa névoa incorpórea.
Tanto aqui se escreveu em verso e prosa:
romances, elegias, baladas, novelas e toda uma prole
de rascunhos que iam da perífrase ao apólogo.
Tanto aqui se ouviram o lamento de um fagote,
uma ária de ópera, a lenta pulsação de um órgão,
a inquieta truta de um quinteto de cordas,
essa insistente música que ecoa na memória
e que não pode (nem quer) ir-se embora.
Como estancar as vozes e os acordes
do Réquiem em que Mozart brindou à própria morte?
Como esquecer, Palestrina, teu Kyrie, teu Sanctus, teu Gloria?
Como calar esse jorro de notas, essa clave de sol
na partitura de uma noite em que faz frio e chove?
Estamos indo embora. Passem o trinco nas portas
e tranquem as janelas pelas quais rompia a aurora.
Apaguem-se a lua e as estrelas, o monólogo
do sabiá na varanda, as nervosas
mãos do vento a sacudir os vitrais da abóbada.
Levem tudo: quadros, taças, santos barrocos, oratórios,
todo esse insólito e cediço espólio.
Bebeu-se aqui o álcool da vida até o último gole.
Não se esqueçam da arca que ficou no sótão.
Desliguem a luz (e o gás, senão tudo explode).
Que fique o resto como esmola. Paguem um óbolo
ao barqueiro que nos leva rio afora.
Estamos indo embora.





...

segunda-feira, 30 de junho de 2014

I'm a dreamer

Hoje fui chamado de "sonhador"!
Isso me causou uma tristeza tão grande... Valei-me PAULO FREIRE! Só me resta cantar essa reza:



quarta-feira, 11 de junho de 2014

Tempos de humanidade desumanizada

Tenho conversado - pouco, ultimamente - sobre política com alguns pobres loucos cansados como eu. E está muito chato conversar sobre política! Esse "banzo de fim de feira" que tem assolado o nosso tempo presente gerou homens cansados, taciturnos, pálidos... por que não dizer, quase-mortos!
Conversar sobre política, sobre ideologias, é quase que um assunto extraterreno, assim como se parecem os interlocutores. Somos e estamos cansados, exaustos, abatidos, cabisbaixos... pobres diabos!
Perdemos o jogo! Dos sonhos e da militância sobraram os restos, os refugos, as postas-restantes, a poeira... Sobrou o pó!
Discutir com um amigo, política? Ora! "Mudemos de assunto... vamos falar de coisa boa", diria o incauto, o insensível, o vencido... o meu algoz!
Mataram-me com a política que mataram!

* * * * 

Valei-me Brecht! Valei-me os mortos que ainda caminham e as cabeças cortadas que ainda pensam! Voltemos a sonhar, afinal, "sonhar já é alguma coisa mais que não sonhar"!


Segue um texto lúcido!

Qual a “culpa” do PT?

Precisamos de um estado que enfrente o modo de vida capitalista. Precisamos de governantes que balancem as estruturas, que sejam capazes de mudar as coisas, na sua raiz. 
09/06/2014
Por Elaine Tavares
Não sou petista e tenho fortes críticas aos governos Lula e Dilma. Tendo votado no PT em 2002 e esperando que o governo avançasse em, pelo menos, algumas questões estruturais, acabei sendo uma das lideranças sindicais de esquerda ( à época estava na coordenação do SINTUFSC), que, logo em seguida da posse – três meses depois – já denunciava o grande golpe dado nos trabalhadores públicos com a contra-reforma da Previdência.
Assim, deixando claro aos provocadores de plantão, tenho, desde então, observado com olhar crítico a ação governamental petista, e não posso deixar de dizer que muito me incomoda essa enxurrada de bobagens – obviamente eleitoreiras - que tem sido ditas nas redes sociais sobres os males do nosso país.
As pessoas estão morrendo nos hospitais. Não é “culpa” do PT. Também, mas não só. Desde sempre, nos sucessivos governos da República, e antes, do Império, que a saúde das populações empobrecidas está entregue às moscas. Os hospitais sempre estiveram lotados e sem condições de atendimento, porque os municípios – governados pelos mais diferentes partidos  - administram mal a política de saúde, com postos sem médico e precariamente equipados. A educação vai mal. É verdade! Mas, quando não foi? Desde quando que os pequeninos das comunidades rurais, ou das áreas urbanas empobrecidas tiveram condições reais de estudar? Em qual governo isso se deu?
As grandes cidades se enchem com as chuvas? Obviamente. Desde o início do processo de desenvolvimento urbano que a organização das cidades não respeita o leito dos rios, córregos e ribeirões. Mas, quantos foram os governo que sucessivamente passaram, apostando nessa lógica insana do crescimento a qualquer preço, sem levar em consideração a realidade da natureza?
O PT tem a sua cota de responsabilidade, é claro. Esperava-se que por vir de raízes populares tivesse outra forma de lidar com os problemas. Mas, não aconteceu. Apesar de ao longo dos governos de Lula e Dilma terem crescido as políticas sociais voltadas aos empobrecidos, o governo petista não tocou nos grandes nós estruturais.  Muita gente saiu da miséria absoluta, e isso é coisa louvável. As políticas de distribuição de renda, ainda que ínfimas, em alguns lugares e para algumas famílias significam a linha entre a vida e a morte. Mas, ainda são políticas compensatórias que raramente emancipam.
Milhares de jovens no interior desse país agora podem cursar a universidade. É um fato. Os governos petistas criaram universidades em lugares inauditos, inimagináveis. E propiciaram que outras tantas faculdades privadas surgissem nas cidades mais longínquas. Como negar a importância disso? O ensino não tem muita qualidade, os empresários da educação enchem seus bolsos, mas alguns jovens que jamais teriam oportunidade de cursar o terceiro grau, o estão fazendo. Precariamente, é certo, mas há os que se superam e vão adiante.
Sempre fiz a crítica às políticas de engordamento do bolso privado e sigo fazendo. Mas, já me emocionei com famílias amigas que foram ver a formatura de seus filhos, coisa impensável até alguns anos atrás em uma cidade como Cristalina, interior de Goiás, ou João Pinheiro, interior de Minas.  Também é importante a consolidação da política de cotas, que trouxe os negros e os índios para dentro dos muros das universidades, obrigando uma das instituições mais fechadas do país a se confrontar com a cara real das gentes brasileiras.
Só que as coisas boas – poucas, porque permeadas de complexidades  - que se podem apontar no governo petista não são suficientes se realmente queremos um mundo diferente. Precisamos de um estado que enfrente o modo de vida capitalista. Precisamos de governantes que balancem as estruturas, que sejam capazes de mudar as coisas, na sua raiz. Então, se alguma “culpa” o PT tem é a de não ter pego o bonde da história, aquele que produziria a mudança, coisa que poderia ter feito, tamanha a popularidade de Lula no primeiro mandato. Em vez disso, o governo se manteve nos limites da “governabilidade”, adoçando os lábios da pobreza, enquanto segue alimentando com manjares a voracidade dos capitalistas, dos grandes empresários, dos donos de terra. Comporta-se como os demais, embora permita uma certa distribuição de renda via políticas públicas. 
Por isso não acho justo atribuir ao PT a “culpa” pelos males do país. Esses problemas estruturais estão aí desde a colônia e temos de seguir fazendo frente a eles, com críticas e propostas. Por conta disso sinto-me muito confortável para criticar as políticas governamentais sem correr o risco de me assentar do lado direito da “assembleia”, que seria o lugar dos conservadores dos reacionários. Não o sou. Por outro lado, não consigo permanecer impávida diante da crítica daqueles que durante toda uma vida chuparam o sangue dos brasileiros e que agora querem fazer crer aos incautos e desinformados que todos os males  - que eles mesmos ajudaram a aprofundar – são de única responsabilidade do governo que aí está. Não reconheço essa crítica e não aceito.
Essa semana, durante o Encontro Nacional de Economia Política (ENEP), uma economista, defendendo as políticas do governo petista, dizia: “prefiro apoiar esse governo, que consegue implementar pequenos avanços, porque nele posso ter mais chance de arrancar coisas melhores”.  Fiquei a pensar e cheguei a conclusão de que não concordo. Um governo do PSDB, do DEM, ou do PP não me servem, porque eles estão claramente comprometidos com a elite e não são capazes de fazer qualquer concessão à maioria. Mas o governo petista, bem como o de seus aliados, PMDB e PC do B, também está ajoelhado diante da elite, sem coragem de dar passos mais ousados. Teve a chance. Não o fez. Logo, não pode representar nada além disso que já está aí. E, como disse, até fez algumas coisas boas, mas absolutamente insuficientes no sentido de uma mudança real de paradigmas.
Assim que ainda estamos diante do desafio de encontrar outro caminho, que, creio, certamente não passa pela via eleitoral. Como bem definiu o economista Marcelo Carcanholo, também no XIX ENEP, não podemos ter como horizonte administrar o estado capitalista dependente, porque ele seguirá exigindo o que o sistema determina. E, nesse espectro, o governante tem pouca margem de manobra. Passinhos de formiga. É o caso do governo atual.
Então, nesses dias que antecedem a Copa e as jogadas eleitorais, é hora de refletir sobre o mundo que queremos, ancorados nas nossas utopias. É esse lá-na-frente, ainda não chegado,  mas possível, que precisa servir de bússola para nossa ação.  Mas, a crítica, necessária, deve ser, sobretudo, honesta. Nesse sentido, todo meu repúdio aos vilões do amor, que desde a chegada das caravelas estão se banqueteando com as riquezas  alheias. A eles, nenhuma concessão.

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

La mar...



É curioso que no espanhol se diz tanto "EL MAR" como "LA MAR". Sempre tive a curiosidade de qual artigo usar...
Lendo Hemingway obtive uma sensacional justificativa... Desde então, sempre trato "o mar" como se trata uma mulher... Talvez venha daí o meu receio de, quase sempre, preferir ficar só na areia!




Segue...

"O velho pensava sempre no mar como sendo la mar, que é como lhe chamam em espanhol quando verdadeiramente lhe querem. Às vezes aqueles que o amam lhe dão nomes feios mas sempre como se tratasse de uma mulher. Alguns dos pescadores mais novos, aqueles que usam bóias como flutuadores para as suas linhas e têm barcos a motor, comprados quando os fígados dos tubarões valiam muito dinheiro, quando falam do mar dizem el mar, que é masculino. Falam do mar como de um adversário, de um sítio ou mesmo de um inimigo. Mas o velho pescador pensa sempre no mar no feminimo e como se fosse uma coisa que desse ou não desse grandes favores, e se o mar fizesse coisas selvagens ou cruéis era só porque não podia evitá-lo. 'A lua afeta o mar tal como afeta as mulheres', pensou o velho."