terça-feira, 31 de março de 2015

Peladinha

Peladinha

- Tá no campinho!!! Respondeu a mãe que, lavando roupa, vigiava o feijão na panela.
João saiu em disparada pela rua, entrou no Beco de Dona Luzia, sua mãe, e, como um sapo pulou o murinho do fundo. Menino encapetado! – alguém gritou da cozinha, de onde vinha um olor delicioso  - odor? – de dobradinha.

Na casa de “Dona Lourdes de Zé Baixinho” nem quis saber do milho perfumado que cozinhava na fogão a lenha do terreiro. Subiu o morro, ‘catou um cavaco’ e, como um gato, chegou até a “rua de cima”, no pé do Cruzeiro. Calçamento pontudo, mais um ‘cavaco’ e a cabeça do dedão ficou pra trás. “Desgraça!!! Peste!!! Capetaaaaaaaaa!!!”. Gemidos, onomatopéias... e mais um “Capeta!”.

Pausa rápida e lá estava o claudicante João a iniciar novamente a corrida. Desceu o morro e chegou na encruzilhada da casa de Leléu. Lá dentro o próprio, com habilidade que vinha de longe, segurava com os três primeiros dedos da mão um prato de mexido. De longe se via o ‘zoiudo’! - “ÔOOOh João!!! Oncevai??? João??!?!!”. Nem ouviu... Já ia longe na trilha detrás das casas do Pirulito, sentido sítio do João Lucas, a caminho do campinho.

Sentia o vento no rosto e a estradinha era a própria vida que se abria à sua frente! Pelos gritos que já podia ouvir conseguiu identificar, antes de vê-los, Tiago, Rodriguinho e Tássius. Como de fato! Lá estavam os três... “Seus viados! Nem me esperaram!”.


Sem mais delongas, fez-se a formação clássica do ludopédio da várzea dos Lucas... Dois de cada lado, oito pés imundos e quatro cabeças sonhadoras. Naquele campinho no fim do mundo, quatro amigos jogavam, sem saber, os minutos mais lindos de uma longa partida...


terça-feira, 24 de março de 2015

Aldo Bastos e José Régio

Na vontade de conhecer Aldo, acabei com ânsia de conhecer Régio!









sexta-feira, 20 de março de 2015

Saudade, eterno filme em cartaz.


Olha o que acontece quando Moska e Chico César resolvem compor juntos...

Música doída como a própria saudade...






Saudade

Saudade, a lua brilha na lagoa
Saudade, a luz que sobra da pessoa
Saudade igual farol
Engana o mar, imita o sol
Saudade, sal e dor que o vento traz
Saudade, o som do tempo que ressoa
Saudade, o céu cinzento a garôa
Saudade desigual
Nunca termina no final
Saudade, eterno filme em cartaz
A casa da saudade é o vazio
O acaso da saudade, fogo frio
Quem foge da saudade
Preso por um fio
Se afoga em outras águas
Mas do mesmo rio.


terça-feira, 17 de março de 2015

Drummonstro!


"Amar" e "O amor bate na aorta"...

Aos apaixonados por Drummond e aos apaixonados propriamente ditos!
















terça-feira, 10 de março de 2015

Pipa

Foto de Fábio Teixeira

Não queria mais a pipa. Os dedos cortados de cerol, calejados de cortar taquara, se agarraram na escadinha de metal que o levou da laje. Nunca mais voltou ao teto de sua casa e a pipa, solta no espaço, ia, serpenteando entre urubus, no céu azul de sua infância.  De volta ao chão decidiu ser o ‘homem’ que seu pai, insensível, tantas vezes lhe exigia ser. Ele que, aos nove anos, nem sabia o que era preciso para ser, então, ‘homem’.
A linha, partida, deu à pipa liberdade e ao menino os pés no chão. A partir daquele dia, dia a dia, durante o correr inexorável dos anos, o homem-menino cresceu. E suou, trabalhou, chorou, não entendeu, correu, bateu marreta, casou, amou?, multiplicou, testemunhou, juntou, colheu, gastou, envelheceu; se cansou.
E numa tarde amarela de agosto, os olhos perdidos no céu, o velho-menino se transformou em uma linda pipa azul.

Catas Altas, janeiro 2015



terça-feira, 3 de março de 2015

Neruda

Uma amiga me disse que "quando a gente começa a curtir mais vinho que cerveja, mais jazz que rock e mais Neruda que Quintana é porque algo de muito grave está acontecendo".

Sempre li muito Neruda e já vi o "Carteiro" algumas boas vezes. Mas é difícil tolerar Neruda muito tempo... É como se recebêssemos a visita daquele amigo 'crisento' e choroso, cheio de conflitos amorosos que não se resolvem, cheio de desamores e amores vãos. No primeiro dia de sua estada nos provoca compaixão, no segundo desespero e no terceiro ânsias de vê-lo em despedida. Ler um típico poema dele é bom, no segundo quase sempre não se quer chegar ao terceiro...

Talvez seja por isso que gosto do "Para nascer, nasci"! Neruda um pouco menos meloso, talvez um pouco mais metafísico, contador de histórias e "causos", mais narrador, menos sofrido.

Mas, fato é que algumas coisas de Neruda às vezes nos pegam pelo pé, de súbito e pronto! Lá estamos nós na sala de casa, o amigo chorando à frente e por dentro uma recíproca vontade de soluçar!

Segue, Pablo!






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