segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Uma reflexão sobre as chuvas no Rio e outras questões...

Texto enviado por meu grande irmão, André. Muito bom!

A tragédia das chuvas, Ronaldinho, Carolina Dieckmann e a reforma agrária
por Lúcio de Castro


Não demorou nem 12 horas. A trágica e absurda dimensão da catástrofe no estado do Rio ainda nem era totalmente conhecida e já tinha gente propondo que Ronaldinho Gaúcho doasse seu primeiro salário para as vítimas. Com o tal do tuiter virou onda, ganhou voz e multiplicou-se. Virou tema de discussão. Por trás dessa discussão, estão outras tragédias por trás da tragédia maior, obviamente incomparável em sua dor e drama.

Não é um caso raro, incomum. No Brasil é comum a cobrança para que jogadores de futebol resolvam os problemas das enchentes, sejam exemplos de conduta para a educação que o pai não dá em casa, se pronunciem e bem sobre qualquer assunto, tenham a obrigação de algo inteligente a dizer ou que sejam algo próximo a alguma vestal. Por trás de tal comportamento, boa parte das vezes, infelizmente e por mais difícil de assumir que seja, está um enorme preconceito de alguns com o fato de que meninos pobres, mulatos e descalços tenham ascendido na vida, freqüentem salões que não podem, desfilem com mulheres que também não podem e por aí vamos. Então tome cobrança. Tome vidas vigiadas. Tome ódio muitas vezes. Antes que alguém se apresse, claro que não estamos inocentando ninguém de culpas ou responsabilidades. Já tratamos nesse blog várias vezes sobre os meninos criados como bichos, ao arrepio da lei, que, tratados como bichos, viram...bichos mesmo. Apenas é preciso botar algumas coisas no seu devido lugar, responsabilidades nos devidos ombros.

Chegaremos ao salário de Ronaldinho, as enchentes, as responsabilidades... Antes é preciso situar algumas coisas. Como uma imagem que não me saiu da cabeça. Era uma madrugada dessas. A atriz Carolina Dieckmann falava sobre seus filhos. Que não gostaria de vê-los jogadores de futebol. Falava com tom meio jocoso e absoluto desdém. “A não ser que sejam como Leonardo ou Raí, estudem...”, proferiu algo assim...Outras declarações do tipo são comuns. Repletas de preconceitos. Vindas de quem? Fernanda Montenegro, Gianfrancesco Guarnieri, gente que sempre soube se posicionar diante das grandes causas e questões do Brasil? Não, Carolina Dieckmann, a parceira de Preta Gil. Detentora de um pensamento revolucionário, sempre ao lado de grandes questões...!!! Essa mesmo, zombava do nível dos jogadores de futebol. Também não me esqueço de um “Bola da Vez” marcante de Leonardo, agora técnico do Inter de Milão. Perguntaram para ele sobre o nível dos jogadores, como ele convivia com isso...Sua resposta foi demolidora: “a média em qualquer meio é fraca. Jornalistas, advogados, engenheiros. Jogadores não são diferentes”, algo assim. Mas cobramos sempre que sejam os exemplos citados acima.

Fala-se também constantemente numa suposta marra de jogadores. Aqui cabe um depoimento pessoal. Pois puxando pela memória não me recordo de nenhum jogador insuportável com quem tenha tido que conviver. Verdeiramente marrentos. Irão falar de Romário...Pois se existe nisso tudo alguém fácil de lidar é esse. Pulemos. (existem bobos, mas isso também é em qualquer área!).No entanto, já convivi com jornalistas, atores, advogados e etc insuportáveis. Consulto um amigo que vive indo na casa da boleirada por aí fazer matéria. Sem saber minha opinião, dispara: “não existe coisa mais tranquila no mundo. Não me lembro de um insuportável. Já em outras áreas que conhecemos...”.

Mais uma vez tal cobrança me remete ao bate-papo que tive com Mestre Eduardo Galeano no começo desse blog sobre preconceitos, recalques e ódios contra os neguinhos que sobem na vida e a Casa Grande nunca aceitou. É só baixar a página que vai estar lá. Nesse momento trágico, ter como primeiro pensamento o salário de Ronaldinho Gaúcho, a obrigação de que ele faça isso ou aquilo, sem entrar no mérito se ele pode, deve ou o raio que seja, reflete muita coisa.

Por que diabos o primeiro pensamento não é para as verdadeiras causas de tanta desgraça? Por que diabos tantos gostam de aparecer falando em campanhas de doação, em se mostrar campeão de solidariedade (mais uma vez muita calma nessa hora, é claro que aprovamos tais ações, mas em muitos cujas práticas são sempre opostas, parece falso). Por que diabos ninguém fala algo primordial nessa história toda: que se nosso país não fosse, com a Argentina, o único das Américas que não passou por uma reforma agrária, não teríamos tanta gente apinhada em locais sem condição de moradia? Por que diabos ninguém nessa hora diz com todas as letras que muitos dos mortos não seriam números de uma tragédia se a estrutura fundiária desse país fosse uma das mais absurdas e concentradoras do mundo? Por que diabos não apareceu ninguém pra falar que a Votorantim, a Belgo-Mineira, a Manesmann tem mais de 11 milhões de hectares de terras no Brasil e que alguns bancos tem quase 6 milhões? Que essa concentração fundiária, como apontou a CNBB em sua Campanha da Fraternidade de 2010, expulsa gente para favelas, cortiços? Esses mesmos que morrem nessas tragédias em sua maioria. Existe a questão mundial do meio-ambiente também. Política, como a reforma agrária, esse palavrão que ninguém profere. Política, como o bilhão que evapora nas obras do Maracanã enquanto gente é levada pela água. E assim chegamos ao xis da questão. Política. A ser feita por cada um. Alguém viu em algum jornal ou na tv a lembrança de que os milhares de camponeses expulsos do campo viraram esses favelados que muitas vezes encontram a morte na primeira enchente? Como no Haiti, igualzinho, onde o mesmo êxodo rural causou a maioria absoluta das mortes no terremoto. Mas certamente é mais fácil cobrar exemplos e atitudes, regular a vida e botar para fora os recalques em cima de um Ronaldinho qualquer...

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Raul ou Luar???



Saindo um pouquinho do tom político (mesmo porque esta não é a intenção única deste blog), acabei de ver um vídeo inédito do Grande Raul, que em 21 de agosto de 1989 virou Luar. Dezenove dias antes de sua morte esse cara sensacional gravou sua última entrevista no Jô Soares, divulgando o que eu considero um clássico, PANELA DO DIABO, com o inoxidável Marcelo Nova.

Compartilho aqui com meus amigos as duas partes dessa última aparição pública... e pensei, que engraçado... todos os meus grandes amigos, sem exceção gostam muito de Raulzito.

Abaixo, uma das músicas que mais gosto desse monstro:

No fundo do quintal da escola
Não sei onde eu to indo
Mas sei que eu to no meu caminho
Enquanto você me critica, eu to no meu caminho

Eu sou o que sou, porque eu vivo a minha maneira
Só sei que eu sinto que foi sempre assim minha vida inteira
Eu sei..

Não sei onde eu to indo
Mas sei que eu to no meu caminho
Enquanto você me critica, eu to meu caminho

Desde aquele tempo enquanto o resto da turma se juntava pra:
Bate uma bola!
Eu pulava o muro, com Zézinho no fundo do quintal da escola

Não sei onde eu to indo
Mas sei que eu to no meu caminho
Enquanto você me critica, eu to meu caminho

Você esperando respostas, olhando pro espaço
E eu tão ocupado vivendo, eu não me pergunto, eu faço

Não sei onde eu to indo
Mas sei que eu to no meu caminho
Enquanto você me critica, eu to meu caminho

E se você quiser contar comigo e melhor não me chamar pra jogar bola
To pulando o muro com o Zézinho no Fundo do quintal da escola
e seguem os vídeos...

VÍDEO 1

VÍDEO 2

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

O monólogo é mais fácil...

Há poucos dias achei no You Tube, sem querer, um vídeo que me chamou muito a atenção. Falando sobre o Fórum Social Mundial um certo Rodrigo Constantino o classificou como uma "massa de ressentidos".
Vi o vídeo todo e fiquei pensando o quanto eu queria encontrar um cara desses pra bater um papo. Percebi que o monólogo lhe caiu bem, afinal de contas, cada palavra dele é digna de controvérsias que tenho certeza, não saberia ele treplicar.

Pensei em discordar publicamente como comentarista de seu vídeo mas, de fato, deu preguiça. Penso que, das duas uma, ou esse cara é muito mal informado (pra falar o monte de baboseiras que ruminou) ou, o que eu acho mais provável, esse cara é tão imbecil quanto os "esquerdóides" que ele critica.

Acho uma merda o discurso de algumas vertentes da esquerda. Sei que algumas correntes são mesmo muito retas, doutrinárias... isso é fato. Mas sei também que a pedagogia freireana (Paulo Freire) me permite acreditar que o grande problema (sem trocadilhos) é a própria falta de problematização. O discurso desse cara é exatamente o extremo oposto da esquerda burra, que dá como produto o que há de mais horrendo no mundo: a direita burra.

Coloco aqui dois vídeos. O primeiro é o próprio que acabei de dizer acima. O segundo é a prova da minha tese: discurso de confetes não cola quando o debatente oposto é um pouquinho esperto, neste caso, o Ciro Gomes (político do qual não sou proselita mas não posso me furtar ao sadismo de observar Rodrigo Constantino sem palavras).

Rodrigo Constantino: verborréia.

Ciro Gomes X Constantino