Fiz isso ontem no plantão. Fica de presente pros meus amigos, em especial a um grande companheiro que re-encontrei em Viçosa e que me fez ficar meio Belmiro.
Acordou tarde. Já era tarde quando dormira, afinal. Estava bêbado todavia.
A chuva lhe arrebatava a alma e sua cabeça tanto doía quanto pulsava. Nos pensamentos, reminiscências fragmentadas da amarga libação.
Brigou com os amigos. Jogou ao chão o que restava-lhe de bom; senso vão.
E a cabeça que lhe doía, também sofria – tal qual seu coração.
Catas Altas, novembro de 2011
Chico Buarque lê Alvaro de Campos
Dobrada à moda do Porto
Um dia, num restaurante, fora do espaço e do tempo, Serviram-me o amor como dobrada fria. Disse delicadamente ao missionário da cozinha Que a preferia quente, Que a dobrada (e era à moda do Porto) nunca se come fria. Impacientaram-se comigo. Nunca se pode ter razão, nem num restaurante. Não comi, não pedi outra coisa, paguei a conta, E vim passear para toda a rua. Quem sabe o que isto quer dizer? Eu não sei, e foi comigo ... (Sei muito bem que na infância de toda a gente houve um jardim, Particular ou público, ou do vizinho. Sei muito bem que brincarmos era o dono dele. E que a tristeza é de hoje). Sei isso muitas vezes, Mas, se eu pedi amor, porque é que me trouxeram Dobrada à moda do Porto fria? Não é prato que se possa comer frio, Mas trouxeram-mo frio. Não me queixei, mas estava frio, Nunca se pode comer frio, mas veio frio.
Paulo José recita Mar Português, de Pessoa
Mar Português
Ó mar salgado, quanto do teu sal São lágrimas de Portugal! Por te cruzarmos, quantas mães choraram, Quantos filhos em vão rezaram! Quantas noivas ficaram por casar Para que fosses nosso, ó mar! Valeu a pena? Tudo vale a pena Se a alma não é pequena. Quem quer passar além do Bojador Tem que passar além da dor. Deus ao mar o perigo e o abismo deu, Mas nele é que espelhou o céu.