Pequeno Conto Andarilho
O dia, que mais pareceu um ano, acabou dolorido. As costas
sobre o chão duro, tão frio quanto úmido, tremiam com o viaduto. Queria comer, dormir, sonhar, conversar... Queria
um monte! Mas querer passa... Dizia a si mesmo, em pensamento, como um monge
paciente.
E a noite trouxe gentes que voltavam pra casa. E eram gentes
bastantes! Um passante, dentre quase mil, jogou-lhe uma moeda certeiramente à
mão, preguiçosamente estendida e, ironicamente, despretensiosa. Apertou-a entre
os dedos. Apertou muito! Ainda estava quentinha... Perdeu, naquele momento, a
fome e o frio. Ficou farto e feliz! Repleto de energia! Ganhara, naquele dia,
mais calor que no ano todo!