sexta-feira, 5 de agosto de 2011

...desculpem a monotonia!

(para os amigos, especialmente ao grande Precata)









Caramba! Sei que estou monótono, quintaniano, mas é que me caiu à mão o livro "A rua dos cataventos" e não consegui parar de re-lê-lo nas últimas duas semanas.

Nesse livro, que recomendo aos melhores amigos, Quintana perambula entre o mórbido e a esperança. É duma singeleza absurda. São sonetos para se ler em voz alta, mas também aceitam o silêncio recluso. É um livro pra se danar todo de poesia, lirismo, solidão... É também nesse livro que perdi o preconceito das reticências. Agora uso-as sem peso na consciência!

Deixo, então, aos meus amigos mais três sonetos retirados desse livro que, sinceramente, não sei como havia chegado até aqui sem ele - e nem tenho idéia de como será a partir dele.



Eu faço versos como os saltimbancos
Desconjuntam os ossos doloridos.
A entrada é livre para os conhecidos...
Sentai Amadas, nos primeiros bancos!

Vão começar as convulsões e arrancos
Sobre os velhos tapetes estendidos...
Olhai o coração que entre gemidos
Giro na ponta dos meus dedos brancos

“Meu Deus! Mas tu não mudas o programa!”
Protesta a clara voz das Bem-Amadas.
”Que tédio!” o coro dos Amigos clama.

“Mas que vos dar de novo e de imprevisto?”
Digo... e retorço as pobres mãos cansadas:
“Eu sei chorar... Eu sei sofrer... Só isto!”

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Na minha rua há um menininho doente.
Enquanto os outros partem para a escola,
junto à janela, sonhadoramente,
ele ouve o sapateiro bater sola.

Ouve também o carpinteiro, em frente,
Que uma canção napolitana engrola.
E pouco a pouco, gradativamente,
o sofrimento que ele tem se evola...

Mas nesta rua há um operário triste:
não canta nada na manhã sonora,
e o menino nem sonha que ele existe.

Ele trabalha silenciosamente...
E está compondo este soneto agora
pra alminha boa do menino doente.

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Recordo ainda... e nada mais me importa...
Aqueles dias de uma luz tão mansa
Que me deixavam, sempre, de lembrança,
Algum brinquedo novo à minha porta...

Mas veio um vento de Desesperança
Soprando cinzas pela noite morta!
E eu pendurei na galharia torta
Todos os meus brinquedos de criança...

Estrada afora após segui... Mas, aí,
Embora idade e senso eu aparente
Não vos iludais o velho que aqui vai:

Eu quero os meus brinquedos novamente!
Sou um pobre menino... acreditai!...
Que envelheceu, um dia, de repente!...


2 comentários:

  1. Meu preferido...

    Escrevo diante da janela aberta.
    Minha caneta é cor das venezianas:
    Verde!... E que leves, lindas filigranas
    Desenha o sol na página deserta!
    Não sei que paisagista doidivanas
    Mistura os tons.., acerta... desacerta..
    Sempre em busca de nova descoberta,
    Vai colorindo as horas quotidianas...
    Jogos da luz dançando na folhagem!
    Do que eu ia escrever até me esqueço...
    Pra que pensar? Também sou da paisagem...
    Vago, solúvel no ar, fico sonhando...
    E me transmuto... iriso-me, estremeço...
    Nos leves dedos que me vão pintando!

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