quinta-feira, 22 de março de 2012

Ericson Pires

Não o conheci. Mas é como se fosse um íntimo. Morreu um cara que nunca parou desde que nasceu. Morreu um agoniado...

Segue minha homenagem a ele:



(sem título)

Estava bom. Era o Rio. Mas estava triste.
Havia Lapa, Urca, Braca... Mas não eram os mesmos...
Algo chorava nas ruas. No mar, algo chorava mais que o normal.
Havia bundas, biquínis, corpos, chopps, areia. Mas tinha algo que não sorria.

Tinha o Cristo, as árvores do Leblon, as sardinhas sem sal do BarUrca,
Mas havia algo além da melancolia comum do fim do dia... Havia choro na “cidade ocupada”.
Dos Arcos veio o motivo:
- O poeta “luarizou-se”.

E no domingo cedinho, lá estava Ericson na praia, bêbado e falante; inquieto; sorrindo; chorando; amando; pulando... Cantando!
Carlos, que lhe cedera uma beiradinha de banco, preguiçoso pensava:
- Nem morto o Ericson pára.






RIO - Nascido na Rua Gomes Freire, no coração da Lapa, em 1971, Ericson Siqueira Pires era um corpo em constante movimento pela cidade. Poeta, performer, ator, músico, produtor e agitador cultural, além de mestre e doutor em Literatura pela PUC-RJ, Ericson foi um dos fundadores do CEP 20.000, ao lado de Guilherme Zarvos e Ricardo Chacal, criador do coletivo musical HAPAX, um combo auto-denominado “grupo de afro-industrial”, do coletivo RRRadical e participante de uma série de outros. Militante ativo nas artes, na política e no cotidiano urbano da cidade, lançou como poeta os livros “Cinema de garganta” (Azougue, 2002) e “Pele tecido” (7 Letras, 2010).
No primeiro, a inquietação e o lirismo potente do autor saltava de poemas que mesclavam prosa narrativa e versos de teor fabular. Ele também flertava com as artes plásticas em poemas iconográficos que dialogavam com ilustrações, num fluxo livre que apontava uma das marcas do pensamento e da ação de Ericson, o compromisso com “a instantaneidade do instante do instante”, também evidenciado em “Pele tecido”, amostra poética de toda volatilidade, urgência, risco e beleza de um corpo colocado inteiro e ativo a serviço de uma experimentação da vida.
“O homem dança. O homem descobre a poesia para aconchegar a fúria. O homem é também política”, escreveu Guilherme Zarvos.
Faixa-preta e ex-professor de jiu-jitsu, Pires fazia da arte ação, luta, resistência e estratégia de combate. Fruto de suas andanças pela urbe nasceu também o livro “Cidade ocupada” (Aeroplano, 2007), um manifesto em defesa da arte urbana como forma de resistência, um escrito que partia de suas aventuras e vivências em coletivos artísticos. O autor defendia uma ocupação da cidade com expressões coletivas, de múltiplas vertentes, que pudessem diluir as barreiras entre a arte dos centros e da periferia.
Filiado à academia, Ericson deixou trabalhos importantes como o livro “Zé Celso Oficina-Uzyna de corpos” (Editora Annablume, 2004), desdobramento de sua dissertação de mestrado entregue ao departamento de Letras da PUC-RJ. Foi também pesquisador do Programa Avançado de Cultura Contemporânea (PACC) da UFRJ e professor adjunto do Instituto de Arte da UERJ.

Ericson Siqueira Pires estava internado há um mês, logo após ter sido diagnosticado com uma pancreatite aguda. Ele faleceu às 4h deste sábado, no Hospital Universitário Pedro Ernesto, em decorrência de complicações em seu quadro. O corpo será enterrado neste sábado, às 15h, no cemitério do Catumbi.



... e um vídeo:














.........................................................................






3 comentários:

  1. Ele foi meu professor na faculdade de Jornalismo, na Universidade Estácio de Sá, no ano de 2007. A aula era de Cultura Brasileira. Ele era completamente excêntrico e considerado pelas meninas um dos mais bonitos do campus. Era difícil pegar alguma aluna dele porque praticamente todas pagavam paixãozinha. pra ele. Do nada, lá pra 2009, engordou muito e deixou a barba crescer, abandonando o estilo totalmente único que tinha, quando dava suas aulas com o inconfundível piercing, camisa social aberta até o meio da barriga, calças bem folgadas por dentro de um coturno militar; visual que era finalizado com os cabelos estilo Caniggia. Nem acreditei quando vi que faleceu. Ele era muito vivo, muito jovem. Antes de mudar o estilo, aparentava ter 10 anos menos do que realmente tinha. Era muito gente boa. Mas reclamava do emprego na Estácio constantemente, o que provavelmente provocou (por vontade própria ou da instituição) seu desligamento no ano seguinte. Foto de como ele era na época: http://entretenimento.uol.com.br/noticias/redacao/2012/03/17/morre-aos-40-anos-o-poeta-ericson-pires.htm

    ResponderExcluir
  2. Finalizando: fisicamente era uma mistura de Lindberg Farias com Owen Wilson

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Pois é, Diego. O engraçado é que eu nem conheci o cara! Estava nos arcos, proseando, quando um cara recitou um poema dele. E anunciou sua morte. Melancolia danada que me deu. Achei essa ligação muito forte, esse sentimento súbito... Foi aí que li Cidade Ocupada, emprestado por uma amiga. Agora, a mistura de Lindberg Farias foi criativa...hehehe

      Excluir