quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Poemas para fechar o ano...

Poesias...

Ressaca

Acordou tarde. Já era tarde quando dormira, afinal. Estava bêbado todavia.
A chuva lhe arrebatava a alma e sua cabeça tanto doía quanto pulsava. Nos pensamentos, reminiscências fragmentadas da amarga libação.
Brigou com os amigos. Jogou ao chão o que restava-lhe de bom; senso vão.
E a cabeça que lhe doía, também sofria – tal qual seu coração.

Catas Altas, novembro de 2011






Chico Buarque lê Alvaro de Campos
Dobrada à moda do Porto




Um dia, num restaurante, fora do espaço e do tempo,
Serviram-me o amor como dobrada fria.
Disse delicadamente ao missionário da cozinha
Que a preferia quente,
Que a dobrada (e era à moda do Porto) nunca se come fria.
Impacientaram-se comigo.
Nunca se pode ter razão, nem num restaurante.
Não comi, não pedi outra coisa, paguei a conta,
E vim passear para toda a rua.
Quem sabe o que isto quer dizer?
Eu não sei, e foi comigo ...
(Sei muito bem que na infância de toda a gente houve um jardim,
Particular ou público, ou do vizinho.
Sei muito bem que brincarmos era o dono dele.
E que a tristeza é de hoje).
Sei isso muitas vezes,
Mas, se eu pedi amor, porque é que me trouxeram
Dobrada à moda do Porto fria?
Não é prato que se possa comer frio,
Mas trouxeram-mo frio.
Não me queixei, mas estava frio,
Nunca se pode comer frio, mas veio frio.






Paulo José recita Mar Português, de Pessoa




Mar Português

Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.







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