quinta-feira, 26 de maio de 2011

Dulce Maria Loynaz



Nos idos de 2004, em Havana, tive meu primeiro encontro com ela. Era uma tarde linda e pesada, daquelas de se gritar (a la Munch); tarde de catarses. Uma tarde sinestésica.

No Malecón, um poema me veio de sua boca com o peso de todo o amor do mundo jogado às costas fracas de um ser que não amava ninguém. Desses poemas que, lidos em determinados momentos, são palavrinhas mágicas, uma senha para se atingir um outro mundo além do que vivemos diariamente.

Em Cuba, principalmente em Havana Velha, é fácil de se danar todo, perdido por ruas de casas de pessoas de melancolias de música de revolução. Foi assim que saí da beira mar ao cair da noite. Já perdido, uma portinha se abriu para uma grande sala, pé direito altíssimo, uma construção pesada do início do século passado, paredes gastas, ton sur ton - marcas da insistência humana em dar cor viva a uma tela que nasceu pra ser pastel. Um casal bebendo run com hortelã e gelo. Salsa... suor... piano, e Dulce em mim. Desde a tarde pesada do Malecón minha cabeça monótona não pensava mais... Foi aí que tropecei numa garrafa de Guayabita de Pinnar, sorvi um 'puro' e entrei no labirinto de becos sem fim.

À ressaca do dia seguinte somou-se o peso das lembranças intermitentes da libação. E Dulce estava lá... comigo. Dormiu comigo. Me fez bem. Me tirou do caminho. E eu estava alí para ser desencaminhado!

Agradeço Dulce Maria... já o fiz muitas vezes e não me canso. Foi uma de minhas melhores companhias na curta passagem por "la Isla". E mesmo aqui, aos pés da Serra do Caraça, ainda ouso encontrar-me com ela, intimamente, organicamente, nesse nosso caso que já dura a eternidade. Tudo isso desde aquela tarde...



Palavras de Dulce:

De amar mucho tienes la palabra que persuade, la mirada
que vence y que turba...
De amar mucho dejas amor en torno tuyo e el que pasa cerca
y se huele el perfume en el pecho, viene a creer que tiene la rosa dentro...

Tradução minha:
De amar muito tens a palavra que persuade, o olhar que vence e que desconcerta.
De amar muito deixas amor ao seu redor, e o que passa perto e sente o perfume no peito, vem a crer que tem a rosa dentro de si.

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